CAPÍTULO 1 - As Três Irmãs"As páginas de uma mente tão cobiçosa tendem a ser perfeitas... Minha Bella, minha doce e querida Bella..." – Lord Voldemort

Eu tinha apenas quatro anos quando ela nasceu. Andrômeda, pequena como era, puxava minhas mãos e guiava-me até o quarto de nossa mãe para irmos conhecer nossa nova irmãzinha, a quem papai dera o nome de Narcisa. Era uma criança linda. Tinha uma beleza um tanto diferente de toda a nossa família. Loira, olhos azuis como o céu celeste. A partir daquele dia decidi que a amava. Peguei-a no colo desajeitadamente. Então ela deleitou-se ao meu olhar. Meus tios encararam-me desconfiados.
Andrômeda sentira ciúmes. Não a deixaram segurar o bebê por ser jovem demais. Ela gritou enfurecida. Logo a empurrei para fora do quarto. Então chorou. Mamãe deu-lhe um tapa no rosto e uma maldição.

A irmã do meio não chorou mais.

Então cinco anos se passaram. Nós éramos três irmãs da aristocrática família Black. Nós éramos sangue puro. Éramos melhores. Meu pai sempre me dizia sobre importância do nosso sobrenome. E eu com nove anos de idade aprendi que não bastava ter uma varinha nas mãos para ser um bruxo. Era necessário ter honra. Uma honra que só era concedida aqueles cujas famílias sempre foram mágicas. {...}
A casa era grande, muito sombria. Havia noites em que eu podia ouvir o choro de Narcisa ecoar pelos corredores. Andrômeda tentou ir ao quarto dela na intenção de acalmá-la. Tive que impedir. Mulheres da Mui Nobre e Antiga Casa dos Black não tinham permissão para chorar ou sentir medo. Jamais esqueci disso. Mesmo quando vi mamãe chorar. Não pude sentir pena dela. Não pude confortá-la. Ela era fraca.
No ano seguinte minha avó morreu. Papai estava no velório, sério como nunca, com um olhar seco e magoado. Nós três estávamos sentadas no mesmo sofá negro, o caixão dela em nossa frente. A única emoção que pude sentir foi o infortúnio. Todos aqueles olhares direcionados a um só cadáver me deixavam entediada. Já os olhos de Andrômeda brilhavam de tristeza, disfarçando seu choro com agonia. Narcisa segurava em minha mão, com medo de que papai visse uma lágrima escorrendo pelo seu rosto pálido. Irma Crabbe Black morrera. Não havia nada que pudesse ser feito para mudar isso.

''Você é uma Black, Bellatrix. E por este motivo deve ser forte. Não chore! Lágrimas trazem vergonha a nossa família. '', disse meu pai, Cygnus Black, encarando-me nos olhos quando chorei pela primeira vez em sua frente. Recebi um aperto em minha face devido a minha insolência. Ele me apontava sua varinha como forma de ameaça. A partir deste ato percebi que varinhas são feitas para lutar. E eu lutaria muito quando tivesse a minha.

A irmã mais velha não chorou mais.

Todos à minha volta falavam de mim pelas costas. Aprendi da pior forma como lidar com a magia. Meus pais odiavam trouxas mais do que tudo, e principalmente os que interferiam em nosso mundo. ''Malditos sangues-ruins!'', eles diziam todos os dias, até que a lição fosse penetrada em nossas mentes. E foi o que aconteceu comigo. Eu era uma Black de corpo e alma.
Minha irmã Andrômeda era fraca e ingênua. Se tivesse usado o seu talento da maneira certa tudo teria sido diferente. Ela tinha um dom que eu não tinha. Consertava o que eu destruía. Consolava os que eu fazia sofrer. Era amada por aqueles que deviam me amar. Uma tola! Se meus pais soubessem de seu futuro a teriam matado antes de permitir que a tragédia se realizasse.

O coração de Andrômeda era como o fogo. Contagiava a todos com sua aptidão e conquistava o amor de meus pais apenas por ser como era. Eu a via como uma bruxa medrosa quando não devia ser. Emotiva quando não precisava. Ainda assim era Andie, a irmã do talento.

Com Narcisa era de outro modo. Ela me obedecia, e por isso eu a amava. Tão bonita, mas tão simples. Tão somente preciosa, como seus brincos de cristal. Ensinei a ela como as coisas funcionavam. Tive de ser dura com ela. Mas garanti que ela fosse uma verdadeira Black. Quando chorou, repeti a ela o que papai me disse.

A irmã mais nova não chorou mais.

Quando completara quinze anos, nossa mãe faleceu. Narcisa permaneceu silenciosa durante toda a cerimônia. Nunca mais demonstrou tristeza. Tristeza era sinônimo de fracasso. Então eu mesma arranjei seu casamento com o nobre e puro-sangue Lúcio Malfoy, a quem ela conhecera e se apaixonara nos anos em que estudara em Hogwarts. Foi meu grande amigo. Assim como eu, ele tinha uma tendência à Arte das Trevas e ideais racistas assim como os Black. Ele não sendo para mim, era perfeito para minha irmã.

O coração de Narcisa era como o gelo. Friamente lúcido. Esbanjando graça sem sentimento. Como uma rosa gélida sem seus espinhos a mostra, esperando para enganar aquele que a tocar. Mente calma e concentrada. Voz frígida e adocicada como a de um espírito. Maldosa para o seu próprio bem. Ainda assim era Ciça, a irmã da beleza.
Eu sou Bellatrix. Sempre fui a arriscada. Sou esperta e digna de meu sangue. Desde muito pequena já tomava coragem para enfrentar o mundo. Desde então eu o faço trabalhar ao meu favor. Manipulo com precisão meus aliados e aniquilo os inimigos com a mesma facilidade que eles tiveram em me aborrecer. Respeito aqueles que merecem e aprendo com aqueles que me derrotam.

Aprecio as vantagens mais do que a vida. O poder é mais válido do que o amor. Riquezas? Já as possuo! Inteligência? Tenho sobrando. A família Black teria uma herdeira que jamais seria esquecida. E eu estava disposta a fazer de tudo para atingir o objetivo das famílias de bruxos puro-sangue. Ou então morreria tentando.

''Meu coração é como a pedra. Gelado e ao mesmo tempo violento. Pesado como meus martírios de infância. Resistente como a minha voz. Vigoroso como a minha risada triunfante. Prestigioso como o sangue que corre em minhas veias. Impenetrável até o último momento. Ainda assim sou Bella, a irmã da força. ''.
CAPÍTULO 2 - Hogwarts
Quando completei onze anos fui levada para a maior escola de Magia e Bruxaria da Grã-Bretanha. Surpreendi-me no dia em que comprei minha varinha. Nunca esqueci como Olivaras a descreveu. ''Nogueira, fibra cardíaca de dragão. Muito rígida! Combina com você, mocinha''. Apreciei-a por vários minutos. Naquele dia tive a certeza de que ela seria minha melhor amiga.

Em Hogwarts tive meus melhores e piores momentos. Certamente entrei para a Sonserina, assim como toda a minha família. Mas algo me fez sentir nojo e repugnância naquela escola. Havia alunos sangues-ruins e mestiços por toda a parte! Era como entrar num beco sem saída cheio de ratos e baratas impregnando sua imundice por onde passavam. Uma praga! Não havia como se livrar deles.

No quinto ano fui convidada a participar do Clube do Slugue. O velho professor Horácio Slughorn apreciava a minha incrível habilidade em Oclumência e Duelos. Fiz questão em derrotar todos a minha volta. Foi então que eu conheci Lúcio. Ele estava no segundo ano e também pertencia ao clube. Tinha facilidade com feitiços da mente, e vinha de uma das famílias mais ricas e influentes da Europa. Mais tarde se tornaria um especialista na maldição Imperius e manipularia metade do Ministério da Magia.

Estudei até onde pude. Passei em todas as N.O.M.S. e não me lembro de meu pai ter me mandado uma carta demonstrando-se orgulhoso. Mas no fundo, compreendi. Era simplesmente obrigação de um Black ser o melhor. Assim fui ensinada.

Andrômeda começara a demonstrar um certo interesse por um nascido trouxa, Ted Tonks. Devia ter me livrado dele quando tive a chance! O maldito se casou com ela um ano depois de se formarem em Hogwarts. Por que ela tinha de ser tão diferente de mim e de Ciça? Por que ela teve de se tornar uma traidora do sangue, do meu próprio sangue? Ordinária! A partir do dia em que ela mandou uma carta nos contando sobre a sua traição, decidi que ela não era mais minha irmã. Meus sentidos não se enganam. Sabia que ela seria diferente, desde que nasceu.

Eu, sendo quem era, mantinha amizade apenas com aqueles que de algum modo valiam a pena. Durante os meus anos em Hogwarts conheci os irmãos Lestrange. Rodolfo, o mais velho, era incrivelmente perverso e engenhoso. Foram incontáveis as vezes em que nós conversamos em plena madrugada no salão comunal. Ele me compreendia. Ele me desejava. Eu podia ver isso no modo como ele falava. Uma vez me disse como eu era bonita. Naquela noite, eu senti algo peculiar. Não o amava. Nunca o amei. Mas tive a impressão de que ele teria um futuro ao meu lado. Minha família o adorava. "Que garoto esperto!" – minha mãe dizia, – "Não deixe ele escapar, Bella. É um ótimo partido." Ah sim, Rodolfo era forte. Ele sabia o que ter sangue puro significava. Nossos pais eram amigos de infância. Nossas famílias tinham antigas relações.

Rabastan Lestrange, o irmão mais novo, tinha a idade de Ciça. Assim como muitos dos rapazes em Hogwarts, ele a admirava por sua majestosa beleza e fragilidade. Eu teria confiado Narcisa a ele. Mas Lúcio Malfoy veio primeiro. Ciça o conquistou assim como ele conquistou a ela. Os dois formavam um casal confino. Meu pai ficara felicíssimo pelo casamento dos dois, assim como quando eu me casei com Rodolfo Lestrange. ''Unir as famílias puro-sangue é essencial!'', meu pai me disse.
O meu quarto ano em Hogwarts foi inesquecível. Durante uma tarde os alunos puderam visitar o povoado de Hogsmeade. Ciça não pôde ir porque estava de castigo. Perdeu uma luta para um mestiço no Clube dos Duelos. Ela tinha apenas onze anos. No feriado de páscoa mamãe fez com que ela duelasse com Andrômeda durante horas, até aprender direito. Depois a consolei lhe ensinando uma maldição. Imperius, era chamada. Na verdade, Ciça nunca precisaria dela para manipular os outros. Mas fiz com que ela se sentisse confiante.

Quando cheguei a Hogsmeade, os alunos se espalharam entrando nas lojas de doces e livrarias antigas. Eu fui até o bosque, na esperança de poder praticar um novo feitiço, que mais tarde descobriria ser o meu favorito. Havia neve naquela época do ano. O frio congelava os meus longos cachos castanhos, a quem Rodolfo tanto elogiava.

Então eu vi um coelho branco. Tamanho médio, muito inofensivo. Desviei meu olhar para o outro lado e notei um alce, grande e avermelhado, que bebia água da poça gelada. Apontei minha varinha para ele e disse:

''Crucio!'' – então o animal foi ao chão, tremendo de agonia. Na hora me senti poderosa. Eu não havia feito esforço algum. Apenas apontei minha varinha e toda a minha raiva foi descontada em uma só palavra.

''Sou uma bruxa. Eu posso'', pensei.

Naquele momento me imaginei fazendo aquilo com pessoas de quem eu não gostava. Imaginei o rosto daquele animal se tornando o de todos os meus inimigos. Um de cada vez. Apontei minha varinha novamente e disse com ainda mais vontade:

''Crucio!''

''Crucio!''

''Crucio!''


O alce ficou imóvel. Pude ver lágrimas escorrerem de seus olhos negros e amendoados. Não me comovi. Era só um animal. Um animal que me fora muito útil. Ajudou-me a descobrir meu mais trágico e belo talento.

Uma voz levemente aguçada e sibilante me fez tremer:

''Usando uma maldição imperdoável... Desde tão moça!''
Eu me virei e vi um homem alto de rosto pálido, ofídico. Os olhos azuis me estreitavam avaliadores. Senti medo. Nunca o tinha visto antes.

''Quem é você?'' – perguntei, segurando minha varinha com tanta força que chegou a doer.

''Tom. '' – ele se aproximou, encarando-me nos olhos. – ''Alguns já me conhecem por Lord Voldemort. ''

''Eu sou Bellatrix Rosier Black. '' – disse com firmeza, tentando demonstrar alguma superioridade. Tom chegara a dar um risinho.

''Puro-sangue, estou certo?'' – Tom deu alguns passos e chegou até o animal quase morto no gramado. ''Venha cá, menina''.

Eu fui. Assim que cheguei perto dele, ele segurou minha mão – a que estava com a varinha – e apontou-a para o alce.

''Diga claramente: Avada Kedrava.'' – Tom silvou em meus ouvidos.

Minha mão estava tremendo. Ele, percebendo isso, segurou-a com mais força. Seus olhos me observaram, esperando que eu obedecesse ao seu comando.

''Avada Kedrava'' – eu disse, em minha voz um pouco baixa. No mesmo instante um jato de luz verde saiu de minha varinha e o animal caíra morto. Tom sorriu, como se estivesse orgulhoso pelo que eu fiz. Eu, com apenas quatorze anos, me senti realizada. A única vez em que eu vi um bruxo amaldiçoar alguém com a morte, foi quando meu tio, Astaroth Rosier, matou um trouxa malfeitor que tentara invadir a nossa casa de campo.

''Ainda vai me conhecer, Bellatrix.'' – Tom deu as costas e foi em direção ao castelo.

No início fiquei um pouco assustada, temendo que ele contasse alguma coisa ao diretor Dumbledore. Mas depois fiquei sabendo que ele foi até Hogwarts pedir o cargo de professor de Defesa Contra a Arte das Trevas. Fiquei triste ao saber que Tom não conseguiu o cargo. Mas pude vê-lo indo embora. Uma expressão assassina enfeitava o seu rosto. Naquele dia conheci aquele que eu amaria mais do que tudo. Lord Voldemort.
CAPÍTULO 3 - Comensais da Morte
Meus anos em Hogwarts finalmente chegaram ao fim. Eu mal cheguei em casa e meu pai já me esperava com um grande sorriso no rosto. Estranhei. Pois em todas as férias anteriores ele sempre me entregava um novo livro e me dizia para estudar mais no ano seguinte. Nosso elfo doméstico, Monstro, segurou minhas malas assim que adentrei ao portão. Então eu e minhas irmãs entramos na imensa sala de estar.

Nela estava boa parte de minha família e outros convidados a quem meus pais já conheciam há muito tempo. Meu pai me deu um longo abraço como nunca tinha feito antes, seguido por um beijo na testa.

''Bella, minha filha querida, arranjei-lhe um casamento dentro de três meses!'' – disse ele, alegremente.

No momento em que ouvi a palavra ''casamento'' senti um arrepio. Já imaginava quem seria meu noivo. Mas a idéia não me agradava por completo. Olhei atentamente para o fundo da sala e reparei um homem alto de longos cabelos negros escorridos até as costas, usando uma lustrosa capa de viagem. Ao lado dele estava um garoto belo e robusto de olhos cor de avelã. Era um de meus amigos de escola, o Rodolfo. O sorriso dele estava tão intenso quanto o seu olhar encarando a mim. Chegava a ser assustador.

''Abigor, meu caro amigo! Precisamos festejar! Nossos filhos nos unirão ainda mais. '' – meu pai deu um abraço no velho bruxo e um aperto de mão em Rodolfo.

Abigor Lestrange pertencia a uma das seis famílias que possuíam um cofre em Gringotes protegido por um dragão. Entre elas também estavam os Malfoy e os Rosier. Famílias que também participavam de nosso vínculo familiar. Os Lestrange eram riquíssimos e poderosos. Muito temidos pela comunidade bruxa por suas influências, inclusive no exterior.

Em meio aquela festa não pude fazer nada a não ser sorrir e me calar. Mas quem me conhecia realmente sabia que eu não estava feliz. Percebi isso quando Ciça sentou-se ao meu lado e apoiou-se em meu ombro:

''Tudo bem, Bella. Você vai aprender a amá-lo, assim como aprendeu a me amar. ''

''Irmãzinha boba. Eu sempre amei você. Só não posso dizer o mesmo sobre a Andie. '' – eu disse isso e então nós duas rimos. Andrômeda conversava com nosso primo Sirius, a quem eu sempre desconfiei ser um traidor, já que ele sempre discordava de mim quando eu condenava os trouxas em minhas palavras agourentas.

Certa noite, um som me chamara à atenção. Olhei janela afora e reconheci o homem que acabara de entrar em nossa casa para o banquete de noivado. O Sr. Avery – meu padrinho – e o Sr. Lestrange – agora meu sogro – o levaram até a sala de jantar. Desci depressa, me afogando em minha própria ansiedade. Para o meu desgosto, no pé da escada esbarrei em Rodolfo. Assim que me esquivei de seus abraços, corri para a grande porta. Na cadeira da ponta, lá estava ele como um verdadeiro rei: Tom Riddle.

Os convidados já estavam todos sentados na mesa colossal. Restaram apenas cinco lugares disponíveis. Três deles eram no meio, próximo aos meus pais, e os outros dois eram na mesma extremidade em que Tom estava sentado. Por impulso, fui na direção dele. Mas minha mãe puxou-me para a cadeira a seu lado. Durante aquele jantar e reunião ouvi a mesma conversa que eu ouvia todos os verões: qual seria a melhor maneira de liquidar os sangues-ruins.

Em meio às vozes possantes dos homens da família pude escutar um sussurro vindo dos lábios finos e pálidos de Tom. Ele conversava com o Abigor Lestrange. Então ouvi meu sogro dizer:

''Ah, sim Milorde! É Bellatrix Black. Está noiva do meu filho. Os dois pombinhos são um dos motivos deste maravilhoso banquete! ''

''E logo será Bellatrix Lestrange, pai. '' – concluiu Rodolfo, sorrindo para mim.
Naquele momento meu coração bateu mais rápido e fortemente. Tom havia perguntado sobre mim. Pena que a resposta que ele obteve fora aquela. Senti vontade de gritar. E pior: não pude decifrar a reação dele. Seus olhos estreitos eram frios como o gelo. Olhavam para mim de esguelha, como se não quisesse que eu reparasse.

Ao fim daquela noite, a maior parte dos convidados foi embora. Restaram apenas alguns amigos de meus pais e familiares. Estavam agora reunidos na sala de estar. Então Lord Voldemort levantou-se.

''Nosso número precisa se expandir, cavalheiros. Comensais da Morte! É disso que precisamos. Não é mesmo, Avery?"

Otello Avery concordou com a cabeça.

''Milorde! Tenho certeza de que meus filhos se sentiriam honrados em servir ao senhor. '' – prosseguiu o Sr. Lestrange. Rodolfo e Rabastan fizeram uma reverência.

Lord Voldemort deu um leve sorriso. Foi então que me direcionei ao centro, encarando-o nos olhos. Naquele momento senti a necessidade em comunicar-me com ele. A força que ele impunha em sua fala, a dominação que ele transmitia aos bruxos presentes naquela assembléia era maligno. O poder de sua voz era imenso, ainda assim suave como um sibilo de serpente. Ah, sim! Poder era algo que me atraía.

''Adoraria servi-lo, Milorde!''

Todos os presentes olharam-me admirados. Andrômeda ficara assustada. Pude ouvir um pequeno grito vindo da boca dela. Rodolfo veio ao meu lado e beijou-me na mão. Tom sorriu ainda mais assim que fiz uma longa e demorada reverência.

''Continuemos com os preparativos. '' – ordenou ele. Então eu jamais deixei de obedecê-lo. Tornei-me sua seguidora mais fiel.
CAPÍTULO 4 - Cruciatus
Passaram-se dois anos tão depressa que mal pude notar que, àquelas alturas, os bruxos puro-sangue já tomavam o mundo da magia. Nós, Comensais da Morte, tínhamos o prazer em liquidar todos os que se opunham a ele. "Todos eles tem que morrer.", ele dizia.

Milorde estava certo. Ele sempre está certo. Súplicas e lamentações já não o convenciam. Aquele que atravessasse seu caminho acabava morto. E era essa nossa maior diferença. Ainda que Tom fosse excelente no que quer que ele fizesse, muitas vezes era simples demais. Dentro do óbvio. Eu diria até mesmo pacato. Ao contrário dele, eu dizia que a morte não é o pior castigo.

Já no início o ar de minha empolgação era notável. A vontade de ser útil falava alto. Eu tinha apenas dezenove. Então finalmente me tornei o que alguns chamam de assassina. E não. Matar não é algo bom. Um gesto simples de minha varinha e uma maldição rápida, são o suficiente para matar alguém, mas não para me satisfazer.

Tenho que concordar com Tom quando ele diz que viver a eternidade é realmente uma boa idéia. Mas matar ainda é simples. E simplicidade nunca foi uma característica minha. Eu preferia algo constante. Algo indomável. Dor. Dor berrante, agonizante. Crucio. Era isso, ou minha angústia.

"Não brinque com a comida, Bella. Um dia ela pode escapar de suas mãos na hora errada.", disse Tom, com tanta seriedade que me assustei. Respondi a ele calmamente que minha prioridade era matar. E que a Maldição Cruciatus era mera preferência. Os olhos dele brilharam de malícia ao me ouvir dizendo aquilo. "Menina brilhante!", ele disse. Então algo nele, eu consegui mudar. Em sua insuperável dominação em Legilimência, ele passou a torturar seus inimigos de modo bárbaro, fazendo-os implorar pela morte. E ele, sendo um Lord, atendia aos pedidos com misericórdia. Como o planejado.

Juntos, fazíamos o trabalho com excelência. Alguns já diziam que eu herdei a mente sádica de minha tia avó. Eu era íntegra, mas não cruel. Pelo menos, nisso eu acreditava. Foi morto, o último homem que ousou desrespeitar-me na presença de Milorde.

"És louca, Black! Louca como todos em sua família." – disse Walfrid Tinish, um dos servos mais imprestáveis de nosso vínculo. Sangue puro, de fato. Incompetente até a alma.

"Avada Kedrava." – disse Lord Voldemort, perante todos os Comensais da Morte.

Walfrid morrera por insultar a mim. As mentiras que ele dissera a meu respeito se viraram contra ele, acompanhadas de uma maldição de morte. A partir daquele dia eu passei a ser mais temida do que acatada. Minha segurança e convicção eram essenciais para meu domínio. Milorde sabia de minha aspereza. E contava comigo na hora em que precisasse dela.

Magia. Feitiçaria. Bruxaria. Os anos iam se passando, e pessoas iam morrendo. Eram tempos difíceis, aqueles. Tempos de glória, pelo menos por enquanto. Lord Voldemort tornou-se uma lenda. O Ministério da Magia não era páreo para nós. Cartazes com os nossos rostos eram espalhados pela cidade, na esperança de que fossemos presos. Os aurores tentavam. Dificilmente conseguiam.

Havia apenas uma organização que incomodava de verdade. Ordem da Fênix. Malditos sejam os bruxos traidores do sangue que foram responsáveis pela queda de Lord Voldemort. No dia em que foi morto, eu já sabia: ele iria retornar. Ele me disse que ainda podia com a morte. Eram extremamente escassas as chances de ele esvaecer por completo. Eu tinha certeza. Ele voltaria para mim.
"Se algo acontecer e alguma coisa der errado, saiba que ainda estarei aqui. É uma questão de tempo, Bella. Espere pra ver e verá!". – ele me disse um dia antes de ir até os Potter.

''Milorde, eu... Eu poderia acompanhá-lo até Godric's Hollow?'' – minha voz saiu tão trêmula que meu nervosismo transpareceu totalmente.

"Desta vez não, Bellatrix. Os aurores podem estar por lá. A notícia de que eu estou atrás dos Potter já foi vazada. Não ousaria arriscar você desse jeito. – Tom segurou minhas mãos. – Vou matar o garoto e voltar. Espere-me aqui, Bella. Isso não é um pedido. Quero voltar e encontrá-la aqui, livre de Azkaban.".

Tom Riddle era um bruxo demasiadamente seguro. Muitas vezes, isso lhe causou problemas. Foi o que aconteceu naquela noite. Quando me contaram sobre sua morte, minha reação foi a mais estranha. Sorri de um modo demente e disse "Eu duvido!". O Lord das Trevas realmente foi morto. Mas não deixou de existir. Eu tinha esperança. E não podia suportar a idéia de que ele não iria mais voltar.
Vários dos Comensais da Morte fugiram por um tempo. Mas no fim, foram capturados pelo ministério. Houveram também traidores e covardes. Dentre eles, Igor Karkaroff. O único dos que afirmaram estar amaldiçoados pela maldição Imperius, que é digno de meu perdão, é Lúcio Malfoy. Sendo ele marido de minha querida irmã, que acabara de ter um filho, era mesmo necessário que estivesse fora da prisão. Entendo o Lúcio e o perdôo. Tão soberbo, mas tão moleque. Ciça teria que encorajá-lo a ser leal.

Comuniquei meu marido a respeito de minhas esperanças. Ele e o irmão estavam dispostos a seguirem comigo. Bartô Crouch Jr., um rapazinho muito perturbado, adentrou a busca. Então nós quatro fomos atrás dos dois aurores que nos causaram mais desgosto. Frank e Alice Longbottom.

"Crucio!", eu dizia com vontade. A risada rouca de Rodolfo confortava-me, por ora. A maldição Cruciatus era meu maior apoio. Dor me lembrava a ele. Destruição me lembrava a ele. Crucio. E uma onda de prazer inundava minha pele. Era difícil resistir à tentação de matá-los. E de jeito nenhum eles abriram a boca. Já era tarde. O casal foi levado à loucura. Um destino trágico. Ainda mais trágico do que a morte.

Não me arrependo de nada que já tenha feito. Milorde me entenderia. Quando fui a julgamento, me condenaram a prisão perpétua. E a partir daí, minha vida mudou completamente. Tiraram de mim a coisa que eu mais prezava em minha vida. Minha varinha. Crucio.
Capítulo 5 - Azkaban
Eu não estava chorando. Chorar não era permitido quando se tinha um sobrenome pesando nos ombros. A voz farpada de meu pai me assombrava a mente a cada minuto, lembrando-me do quão fraca eu estava sendo. Não me deixava escolhas. Meu sofrimento devia ser seco, no mais fúnebre sentido da palavra. O sentimento de culpa não existia em mim. Nenhum remorso, nenhuma dúvida. Sabia que seria recompensada. Tom viria me buscar. Isso era uma certeza.

Arrancaram Rodolfo do meu lado assim que chegamos à ilha. O som de sua voz não mais me acalmaria quando eu estivesse nervosa. Seus braços não mais me abraçariam, quando eu não me sentisse segura. Ele não estaria mais por perto, quando eu fraquejasse. Seus olhos não encontrariam mais os meus para ele me dizer o quanto me amava. "Boa noite, minha querida.", ele disse como se fosse me ver pela manhã. O rosto dele se afastou, debatendo-se entre as correntes.

"Nós sairemos daqui, Bella. Seja forte! Por favor, seja forte!" – prosseguiu Rodolfo em meio a soluços aguados. E essas foram suas últimas palavras antes de ser levado à ala oeste. Gritei por seu nome até minha garganta secar. Então me levaram até meu novo lar. Sujo, imundo. Digno de um inferno.

Os dementadores visitavam aqueles que de alguma forma se sentissem felizes ou esperançosos. Cada bom pensamento era roubado e destruído. Até que o detento se tornasse um corpo vazio, dotado apenas de tristeza. Muitos se deixaram levar. Muitos foram fracos. Mas eu suportei até o fim. A solidão foi gentil comigo. O céu escuro me permitiu sonhar. Nos sonhos eu era livre. E Milorde estava ao meu lado.

A comida era escassa. Aprendi a torná-la real. Senti meu rosto sendo destruído aos poucos. O pequeno espelho ao lado da cama me forçava a encará-lo todos os dias. Percebi que já haviam se passado anos, e eu ainda era uma prisioneira. A frieza foi minha única aliada. Ajudou-me a esconder minhas lágrimas, que ficaram guardadas dentro de mim por tanto tempo.

Um dementador pousou ao meu lado. Suas longas vestes negras sacudiram a minha volta. A sensação de angústia voltou a me perturbar. Então a voz de Tom silvou em minha cabeça. "Você é mais do que pensa, Bella. Precisa acreditar nisso.". O dementador recuou. Vencido por minha crença e convicção. Milorde não estava ali. Mas eu ainda sentia sua presença, a sua força protegendo a mim.

Dava a impressão de que minha cela diminuía conforme o tempo. Conversava comigo mesmo para evitar o inevitável. A tristeza. Teria que passar por tudo aquilo. E sem reclamar. Foi escolha minha unir-me a Lord Voldemort. Não devia envergonhar-me de minha própria decisão. Não entrei nessa guerra apenas pela causa, mas também por um mestre ocasional, uma fúria, e um convite ao perigo. Vivia meu destino como em um devaneio, sem saber quem eu era, ou o que eu era. Apreciando somente o fato de algum dia eu ter existido e amado.

Eu ria, então gritava. Condenava e amaldiçoava os céus, pela alegria em ter liberdade ao menos para isso. Murmúrios de fora me contavam que aurores vinham de lá, carregados de prisioneiros, que assim como eu, eram adeptos ao Lord das Trevas. Com raras e cuidadosamente escolhidas palavras eu disse a eles que sou uma Black, e esperaria até o mais corajoso ceder ao meu desafio. Nenhum dementador foi mandado a minha cela. Nenhum maldito auror ousou me ameaçar. Logo, meus olhos brilharam maldosamente ao perceber que ainda suportavam a vontade de chorar.
E eu comecei a rir. Uma profunda risada gutural se transformou em gargalhadas barulhentas, exaltadas e agudas. Quase imaginei uma voz chamando meu nome, de tamanho era o surto de ansiedade. A partir deste dia, eu passei a sorrir. Tão somente a sorrir. Aprendi que Dementadores vencem os fracos. E eu não deixaria que desfalcassem minhas lembranças. As únicas responsáveis pela minha sobrevivência naquele lugar.

Ouvi o choro de uma bruxa jovem. Por um momento, achei que fosse Narcisa. Minha única e verdadeira irmã. Se ela realmente estivesse ali, eu teria enlouquecido. Não me perdoaria se deixasse algum mal acontecer a ela. Azkaban nunca foi o lugar certo para alguém tão puro como Narcisa. Fique aliviada ao saber que não era ela. Então me lembrei de sua voz inocente na noite em que matei os Prewett.

"Fiquei preocupada. Onde você esteve, Bella?"


"Tornando o mundo um lugar melhor, Ciça."


"Pode me contar como?" – disse ela, com real curiosidade.


"Ainda não. É cedo demais para isso. Mas você pode confiar em mim. Comigo por perto, você sempre estará segura."
O tempo estava se tornando incalculável. A espera por meu mestre servia-me de consolo. A esperança foi algo que eu sempre manti aceso. Meu coração, agora adoecido em frieza dedicava suas batidas somente a ele. Aguardava ansiosa por algum sinal, algum rumor de que ele teria voltado para trazer novamente brilho aos meus dias.

Durante aquela noite, eu estava acordada. Encarando as nuvens como se fossem rostos. Chegou o momento em que a imagem de um crânio esverdeado formou-se entre elas. A Marca Negra em meu braço avisou-me de que ele tinha chegado. Um berro alto e aguçado formou um feitiço, que naquela época, eu desconhecia. Exatamente o local onde ficava minha cela foi derruído por completo. Caí para trás, levando um susto. Quando olhei para cima, uma mão pálida estava estendida diante de mim.

Agora Tom estava em minha frente. Tão forte e tão poderoso, que quase senti medo. Quando finalmente tive energias suficientes para crer no que acabara de acontecer, escondi meu rosto com as mãos, envergonhada pela minha aparência maltratada.

"Não se esconda de mim, Bella. Por favor." – disse Tom, erguendo-me do chão.


"Perdoe-me, Milorde... Mas eu estou tão..."


"Estás radiante, Bellatrix!" – e pela primeira vez, ele me abraçou de verdade, sem receio sobre minha reação. Retribuí ao gesto, inteiramente encantada. – "Ainda mais viva e enérgica do que antes, tenho certeza! Diga adeus a este lugar. Pois neste chão você não pisará nunca mais. Dou-lhe a minha palavra."
Capítulo 6 - Demência
Uma nova guerra havia sido iniciada enquanto estive presa. Meus anos em Azkaban me impeliram a admitir um sentimento que eu sempre acompanhei com temor. O ódio. Agora sim eu tinha motivos para adorá-lo. Agora sim eu teria prazer em explorar suas emendas sem preocupação. Eu precisava suprimir minhas cobiças, através dele.Crucio. Principalmente sobre aqueles que ousaram seguir contra Milorde. Foram eles os culpados pela minha derrota. Derrota ilusória, eu diria. Pois eu retornei, conquistando a maior carta do jogo.

"Chegaram mesmo a acreditar? Tiveram a ingenuidade de pensar que o Lord das Trevas realmente foi morto?" – eu ria e gritava, apontando minha varinha aos dois aurores do ministério que foram responsáveis pela minha captura. "Crucio!", eu gracejava e sorria, saltando entre os confins, ao perceber quanta dor eles sentiam. "Crucio!". Quanta satisfação! Agora eram eles que imploravam para mim. Ajoelhados e humilhados. Acredito no poder da dor. E dor vem a calhar nessas horas. A Maldição Cruciatus sempre obrigou as pessoas a me fazerem feliz por alguns instantes, até que finalmente eu pudesse dizer: – Avada Kedavra!

Então os dois aurores morreram.

Logo em meus primeiros dias em liberdade, Lord Voldemort já incluía planos envolvendo seus mais fiéis Comensais da Morte. Naquela época, o mundo bruxo não acreditava em hipótese alguma que Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado havia voltado. Momento perfeito para começar a agir. Era o ano de 1996. Estremeço ao lembrar de como o fim daquela noite fora trágico. Mas algo em particular me fez bem. Muito bem, por sinal. No momento em que matei o homem, que naqueles tempos eu já o tinha desconsiderado como primo, senti-me gloriosa. Menos um Black traidor do sangue na família. Então a próxima em minha lista passou a ser Andrômeda.

"Eu matei Sirius Black! Eu matei Sirius Black!", gritei pelo grande saguão. Até que Harry Potter, o mestiço imundo, me amaldiçoou. Ou melhor, tentou me amaldiçoar, obtendo absoluto fracasso. Bebezinho estúpido! Na cabeça dele, deve ter achado que fez grande coisa. Mas naquele mesmo instante, eu ri por dentro. Era uma questão de tempo até que Tom aparecesse. Foi então que descobri que a profecia fora destruída. Enquanto todos os outros Comensais da Morte haviam sido capturados pelos aurores, eu havia sido poupada. Tom voltara para me buscar naquela noite, antes que ousassem me prender novamente.

"Silêncio, Bella! Você não sabe o quanto estou furioso!" – disse Tom, enquanto eu suplicava longas e aprazadas desculpas, através de incontáveis reverências. – "É melhor você ter uma boa explicação para o que aconteceu hoje. E pare de pedir perdão, antes que eu enlouqueça!"


"Milorde, por favor... Eu juro que não se repetirá! Agradeço muito pelo que tem feito por mim, mas... Mas e os outros, como sairão de Azkaban? E Rodolfo! O que será dele?"


"Incarcerous!" – uma corda saltou de sua varinha e veio em minha direção, sufocando-me lentamente. – "Por favor, Bella... Diga que me ama. Diga! Diga que ama somente a mim!"


"Milorde... O senhor sabe..." – minha voz estava enfraquecendo. A corda começou a subir em volta de meu pescoço. – "Solte-me!"


"Antes diga, Bella! Preciso ter certeza!" – Os olhos de Tom Riddle estavam em chamas.


"Amo." – eu disse quase em um sussurro. Logo, a corda se soltou e esvaeceu.


"Eu precisava ouvir." – Tom abaixou-se em minha frente. Sua voz estava tão calma que parecia outro homem. – "Por um instante, eu duvidei. Contudo, agora ficarei tranqüilo, sabendo que fiz a coisa certa cumprindo minha palavra. Pois veja só, você ainda é livre, Bella. Livre e minha."
No ano seguinte meu sobrinho, Draco, a quem eu tive tão pouco tempo para orientar, fora convocado para uma virtuosa, porém difícil, missão. Ciça estava começando a perder o juízo. Com o marido na prisão, e o filho tentando matar Dumbledore dentro da própria escola, ela tinha motivos para isso. Entretanto, jamais devia ter pedido ajuda ao um traidor como Severo Snape. Eu não poderia culpá-la. O Lord das Trevas ainda confiava nele.

"Tia Bella, a senhora pode me ensinar Oclumência?" – disse Draco, desajeitadamente, como se o que estivesse me pedindo, pudesse de alguma forma prejudicá-lo.
Por um instante eu ri, mesmo não tendo graça nenhuma na situação. Draco chegou a se assustar. O efeito que minha risada fazia nas pessoas era tão avassalador que até eu mesma me surpreendia.

"Por que surgiu esse interesse agora, garoto? Não está querendo esconder alguma coisa, está?"

"De jeito nenhum. Mas pretendo me defender do professor Snape, caso ele queira... você sabe... Levar vantagem."

Quando Draco Malfoy mencionou seu professor favorito daquele jeito, tive a certeza de que Snape estava mais do que interessado em cumprir a missão de meu sobrinho. Mais tarde eu descobriria o porquê. Mas naquele momento, resolvi ajudá-lo. Se Ciça soubesse teria ficado furiosa, já que foi propriamente ela quem insistiu em procurar Snape.

"Muito bem, Draco. Mas me prometa que não aceitará ajuda de seu professor."

"Não devo contar nada a ele?"

"Nada! Nem pra ele nem pra sua mãe, ouviu? O que você tiver que perguntar, pergunte a mim!"

"Confio na senhora." – finalizou Draco. Seu tom de voz arrastado era exatamente como o do pai.

Meses depois, o plano da invasão através do armário sumidouro foi inteiramente bem-sucedido. Porém, quem matou Dumbledore foi Snape. Mas o que realmente importava não era exatamente quem havia matado o diretor, e sim o fato de ele havia morrido. Dumbledore finalmente estava morto! Não demoraria muito até que o mundo da Magia se tornasse um completo caos.
Capítulo 7 - Mau Começo
"Os seus olhos só se fecharão, se antes os meus já estiverem fechados.", disse Tom Riddle, não alto, mas suficientemente claro para que eu pudesse ouvir, na noite em que houve uma reunião no palácio Malfoy. "Chegará o dia em que todo o sangue sujo irá secar, toda a boca irá calar. Palavras não são eternas, Bella. Mas você é."


Quantas pessoas morreram por esta causa. Quanta tragédia eu fiz acontecer. Eu sou culpada. Todos nós somos. A dor e o talento para fazer o mau ainda faziam crescer a minha vontade de lutar. Pessoas fracas diriam que o sofrimento foi em vão. Nós, sangues-puros e virtuosos de guerra, ainda queríamos vitória. Não importava mais quem iria morrer ou sofrer. Somente o tão esperado triunfo nos fazia ter esperanças de um futuro melhor e mais digno.


Os Comensais da Morte foram encarregados de encontrar ninguém menos que Harry Potter e trazê-lo vivo até o Lord das Trevas. Com Pio Ticknesse sendo controlado pela maldição Imperius, foi fácil obrigar o ministério todo a se rebelar contra os porqueiros nascidos trouxas.


A Ordem da Fênix fazia o possível e o impossível para proteger o garoto. Reconheço o que é chamado de força de vontade. E também reconheço o medo, com a mesma facilidade. Nenhum dos integrantes ousou nos atacar. Será que apenas o tão famigerado Dumbledore achava que estava à altura de Lord Voldemort? Afinal, os malditos da Ordem se esconderam por muito tempo. Então a idéia de transformar o nome de Milorde em tabu foi muito bem desfrutada. Diante disso, a morte se tornou algo sutil e apropriado.

Haviam bruxos que se recusavam terminantemente a obedecer o novo governo, gerando revoltas e manifestações contra Ticknesse, que nessa época, já havia se tornado Ministro da Magia. Eu estava morando junto de minha irmã. Deixei a Mansão Lestrange assim que saí de Azkaban, a pedido de Tom. Todos da família de Rodolfo, assim como eu, eram foragidos da prisão. Narcisa era a única de nós que não possuía a Marca Negra. Não tendo a marca, ela jamais poderia ter sido presa por seguir a Lord Voldemort. Ciça era engenhosa. Poucas pessoas conheceram seus verdadeiros crimes. Crimes excepcionalmente trágicos.


"Senhora Bellatrix Black... Lestrange, – disse Lord Voldemort crispando os dentes, assim que entrei no salão. Nagini serpeava sobre seu corpo. – "Rodolfo fez o que eu mandei?"


"Está tentando, Milorde." – respondi com a voz rouca.


Tom se aproximou seriamente, deixando a cobra na poltrona. Seus olhos demonstravam profunda aflição. Naquele exato momento tive certeza sobre o que ele estava tentando fazer. Quando finalmente desistiu de usar Legilimência contra mim, sorriu desdenhoso.


"Eu previ isto. Você uma ótima oclumente. Ainda não consegui descobrir o que está pensando a meu respeito." – Tom segurou uma de minhas mãos. Eu dei um passo para trás, imaginando o pior. – "Você teme a mim, Bella?"


"Não. Eu não temo ao senhor." – desta vez, minha fala retornara forte – "Eu temo pelo senhor. Temo que morra, que seja vencido de algum jeito..."


"Não!" – Tom gritara. – "Isto é impossível, Bella, sabe disso. Você precisa de uma vez por todas aprender a confiar em mim."
Dito isso, abracei-o com vontade, sem receio algum. Tom não se esquivou. Pelo contrário, pareceu estar esperando por aquilo. Quando pensei em soltá-lo, seus lábios finos e pálidos se juntaram aos meus. Então nos beijamos pela primeira vez. Se naquelas condições, a palavra felicidade de alguma maneira pudesse fazer sentido, seria naquele instante, onde todo o meu ódio e angústia puderam ser esquecidos.


"Bella..." – Tom suspirou, em seguida pronunciou algo incompreensível aos meus ouvidos, utilizando ofidioglossia. Nagini rastejou até nós, em seguida se inclinou para cima, de modo que sua cabeça ficasse na altura de meus ombros. – "Eu preciso lhe contar uma coisa. E ordeno que você aceite."
Meses depois, os Malfoy e eu recebemos uma visita inusitada. Os seqüestradores do ministério apareceram na mansão trazendo em seus braços o indesejável número um e seus leais dois amigos. Por mais que a notícia parecesse formidável, foi pior do que eu imaginava. Se aquele maldito elfo não tivesse interferido, a guerra poderia ter acabado mais cedo. Milorde teria vencido. Tudo teria sido diferente. Depois de minha segunda e verdadeira falha ao deixar que o garoto Potter fugisse de minhas próprias mãos, eu pude ver Tom inteiramente enraivecido.

A fúria de Lord Voldemort foi bárbara. Oito pessoas foram assassinadas naquela noite apenas pelo seu mórbido desejo de matar. Depois que contei sobre o roubo de minha varinha, ele enlouqueceu. Mandou que eu ficasse com a varinha de Rabastan Lestrange, que muito se assemelhava a minha. Nogueira, pelo de unicórnio, 33 centímetro. Contudo, jamais teria o poder de substituí-la.

Chegou o momento em que conseguimos invadir a escola. Hogwarts tentava de todas as maneiras se defender de nossos ataques. A Ordem da Fênix estava reunida com o mesmo propósito que o de todos os presentes. Vencer a guerra. O Lord das Trevas propôs que entregassem o garoto em troca de sua misericórdia. Mais tarde, Harry Potter viria até ele.

Quando mais da metade dos combatentes foram mortos, recebi a notícia de que Severo Snape havia morrido. Apesar de eu ter ficado surpresa, a notícia foi à melhor da vez. Pois quando a guerra acabasse, eu mesma tinha a intenção de matá-lo. Como minha mãe sempre dizia, "Traidores devem morrer ainda antes da escória que chamamos de sangues-ruins."
Lúcio e Ciça ficaram ao meu lado o tempo todo. Assim como eu, impedidos de participar da batalha. Pelo menos, por ora. Os dois estavam sem suas varinhas, desesperados para saber do paradeiro de Draco. Após a curiosa ressurreição de Potter a guerra deu continuidade. Ainda mais sangrenta e impetuosa do que no início. Desta vez, eu lutaria com vigor. Desta vez, eu tinha minhas requisições definidas. Mataria mais do que qualquer um dos Comensais.

"Vai morrer, mestiço!" – gritou Antônio Dolohov ao lobisomem Lupin, enquanto duelavam furiosamente. – "Seu corpo apodrecerá sobre o sangue sujo que você tanto defende."

Segundos depois, Remo Lupin caíra morto. Então um grito agudo vociferou ao meu lado. Ninfadora Tonks, a quem eu recusava terminantemente a reconhecer como sobrinha deitara sobre o corpo do marido, jorrando lágrimas de desgosto.

"Avada Kedavra!" – gritei prazerosamente, imaginando naquela mulher o rosto imundo de Andrômeda. Ninfadora morrera através de minha maldição. O orgulho que eu sempre preservei acabou servindo enfim para alguma coisa. Os males de meu passado conferiam meu estado de demência. Então minha risada tornou a assombrar os corredores daquela escola. As pessoas corriam de um lado para o outro, desnorteadas, tentando se afastar do som de minha voz. Quando finalmente dei por minha notável agilidade, mais de uma dúzia de bruxos já haviam sido mortos. Eu sou culpada.